Voltando ao passado
Quarenta anos se passaram da última vez que pilotei em Interlagos uma motocicleta com motor dois tempos.
Roberto Keller que participa do ICGP (International Classic Grand Prix) na Europa, inclusive ficou em terceiro lugar no campeonato do ano passado e que está organizando a última etapa no Brasil este ano, no dia vinte e três de Outubro em Goiana, me convidou para pilotar duas de suas Yamaha TZ, uma TZ-A 350c.c. ano 1974 com aquele maravilhoso freio a tambor quase do tamanho da roda e onde o piloto senta praticamente em cima da roda traseira, a outra já bem mais moderna, também 350c.c. ano 1980 com quadro Niko Bakker, mono shock e freio a disco onde o piloto já senta mais para frente. As famosas motos dos anos setenta e começo dos anos oitenta onde vários pilotos foram campeões mundiais com este bólido. Nada menos que Giacomo Agostini, Barry Sheene que foi campeão mundial de 500c.c. mas venceu várias provas com as TZ 350c.c., Johnny Cecotto, Jarno Saarinen e outros!
A noite anterior foi difícil de dormir. Muitas coisas passaram pela minha cabeça, uma mistura de nostalgia e preocupação se iria conseguir pilotar direito estes foguetes que entregam a potência de uma só vez entre 10000 e 12000 giros. Um range muito estreito de giro, se deixar cair abaixo de aproximadamente 8000 a moto simplesmente não responde, bem diferente dos modernos motores quatro tempos que despejam a cavalaria desde os 8000 até os 14000 giros. E o cheiro da gasolina de aviação? Que saudades! Gasolina pura, evapora em segundos, totalmente diferente da gasolina que é vendida nos postos onde abastecemos nossos veículos, isso sem falar na quantidade de gasolina adulterada que existe neste país. Porém a gasolina de aviação tem chumbo, além de poluir destrói o catalizador.
Chegamos na pista de Piracicaba ECPA, tinha chovido, e como havia muita borracha na pista, estava muito escorregadia. Enquanto a pista ia secando fomos abastecer e ligar as motos, a TZ-A deu um certo trabalho para pegar, mas quando finalmente funcionou escutei aquele ronco inconfundível de motor dois tempos e muita coisa passou pela minha cabeça. Fizemos funcionar a outra TZ e finalmente tinha chegado a tão sonhada hora de pilotá-las. O Beto me deu as dicas e saí primeiro com a TZ-A que estava com pneus novos, porém com meus um metro e noventa de altura tive um certo trabalho para me encaixar, mas aos poucos fui me adaptando e gostei muito da ciclística, ela entra fácil nas curvas, o mais difícil mesmo foi controlar a potência, ela despeja de repente quando o motor atinge 10.000 rpm, e a frente não quer parar no chão. As motos são muito leves já que os motores dois tempos tem muito menos peças que os motores quatro tempos. Você tem que manter o giro dentro de uma faixa estreita, se deixar cair abaixo de 8.000 o tempo de volta já era. Eu não estava na pista para tentar fazer grandes tempos, mas para me adaptar a motocicleta. Depois foi a vez de trocar com o Beto e sentar na TZ mais nova com o famoso quadro Niko Bakker. Realmente a mudança foi grande, me senti bem mais confortável. Tem mais espaço para minha altura, você fica sentado mais à frente, a posição das pedaleiras são mais confortáveis para minha altura, enfim tudo nela é superior tornando mais fácil a pilotagem. O único senão, é que estava calçada com pneus já ressecados. O Beto que já tinha andado com a moto pediu que eu fosse sentindo aos poucos a aderência dos pneus. A motocicleta é maravilhosa, muito leve e potente, é adrenalina pura. Mesmo sendo uma moto de coleção, onde nem tudo está perfeitamente ajustado (se frear muito forte a frente dá final de curso), deu para curtir muito.
Final de treino, colocamos as motos na Pick-up e voltamos para São Paulo.
Foi realmente uma experiência muito agradável e interessante em poder pilotar novamente uma motocicleta com motor dois tempos e sem nenhuma ajuda eletrônica. Para a geração que não viveu essa época, é bom explicar, para uma moto com motor quatro tempos ter o mesmo desempenho de uma dois tempos, precisa ter aproximadamente o dobro da cilindrada.
Muito boa a reportagem, tive as motos pequenas 2 tempos e depois em 1973 uma RD-350, vinha muito a SP para ver corridas
Gostei muito Marcos
Miguel
Olá Marcos e a Honda 65 branca ruma a Franco da Rocha ou ida Barra do Saí
Oi Daniel! Lembro bem das nossas viagens de Honda 65! Ir para Barra do Sahy era preciso levar gasolina e o caminho era pelas praias, bons tempos!!!